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Por que o Nubank está voltando ao trabalho presencial

Introdução

Desde a sua fundação, o Nubank sempre se apresentou como símbolo de inovação, leveza e ruptura. A ideia de operar “nas nuvens” — de modo flexível e remoto — parecia traduzir não apenas um modelo de negócio, mas também uma filosofia de liberdade. Entretanto, a fintech que redefiniu a relação dos brasileiros com os bancos agora anuncia uma virada estratégica: o retorno gradual ao trabalho presencial.

Essa decisão, longe de ser apenas logística, reflete um novo estágio de maturidade corporativa. Por isso, mais do que discutir a presença física, é preciso compreender o que está em jogo: cultura, poder, inovação, pertencimento e, sobretudo, o equilíbrio entre autonomia e controle. Ao analisar o caso do Nubank, podemos enxergar os contornos de um novo paradigma no trabalho digital.

O nascer do sol reflete a nova fase do Nubank — entre a liberdade do digital e o reencontro com o espaço físico do trabalho.

O que o Nubank anunciou

Em novembro de 2025, o Nubank comunicou que, a partir de 1º de julho de 2026, passará a adotar um modelo híbrido com presença mínima de dois dias por semana no escritório. Além disso, o banco planeja aumentar para três dias presenciais em 2027.

De acordo com a empresa, a decisão não representa um retrocesso, mas sim uma “evolução natural” do modelo remoto que vigorou nos últimos anos. Segundo o comunicado oficial, o objetivo é fortalecer a cultura organizacional, acelerar a inovação e preparar o Nubank para a próxima fase de expansão global.

Para viabilizar essa mudança, o banco também está ampliando e modernizando seus escritórios em São Paulo, Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cidade do México, Bogotá, Buenos Aires, Miami e Palo Alto. Assim, busca criar espaços que combinem colaboração, conforto e identidade.

Apesar disso, a empresa informou que algumas funções mais autônomas continuarão com maior flexibilidade, reconhecendo que nem todas as atividades exigem interação constante.


Por que o Nubank quer o retorno ao escritório

1. Reforçar a cultura organizacional

De acordo com o Nubank, a cultura é um organismo vivo — e, portanto, precisa de contato humano para prosperar. A empresa afirma que valores não se sustentam apenas em manuais, mas se fortalecem no cotidiano, nas conversas de corredor e nas trocas espontâneas. Assim, o retorno ao escritório é visto como forma de revitalizar vínculos e reconstruir o senso de pertencimento que o trabalho remoto diluiu ao longo do tempo.

2. Acelerar a inovação

Outro argumento central é o impacto direto da presença física na velocidade da criação coletiva. Reuniões improvisadas, ideias trocadas ao acaso e discussões presenciais são, segundo a empresa, fundamentais para sustentar a curva de inovação que tornou o Nubank uma das fintechs mais admiradas do mundo. Dessa forma, o híbrido é apresentado como um meio-termo entre a flexibilidade digital e a energia criativa do encontro humano.

3. Executar com mais consistência global

Por fim, o Nubank considera que o crescimento internacional exige maior sincronia entre equipes. Trabalhar em diferentes fusos e culturas tornou-se mais complexo, e o banco acredita que interações presenciais regulares podem garantir alinhamento estratégico e qualidade de execução. Em síntese, a empresa entende que estar junto fisicamente não substitui o digital, mas o complementa.


As tensões e reações internas

Entretanto, o anúncio não foi recebido sem resistência. Muitos funcionários — especialmente aqueles que se mudaram para outras regiões durante o período remoto — enxergaram a decisão como uma ruptura de contrato psicológico.

Para esses profissionais, o trabalho remoto representava liberdade, equilíbrio e inclusão. Agora, o retorno presencial é percebido como um movimento que recentraliza o poder nas metrópoles, favorecendo quem vive próximo aos polos corporativos.

Além disso, a reação interna foi intensa. Em reuniões virtuais e fóruns de discussão, surgiram críticas sobre o curto tempo de adaptação e sobre a falta de diálogo prévio. Alguns colaboradores classificaram a medida como “um retrocesso disfarçado de modernização”. Em consequência, a empresa precisou intervir em alguns casos de conduta considerada inadequada, o que apenas aumentou a tensão no ambiente.

Ainda assim, o Nubank manteve o discurso de que a medida é estratégica, não punitiva, e que será implementada gradualmente, com apoio psicológico e logístico para a readaptação das equipes.


Uma leitura à luz da Quarta Revolução Industrial

Sob a perspectiva do Betaverso, o caso do Nubank é mais do que uma questão de gestão — é um sintoma das transformações do trabalho na era da Quarta Revolução Industrial.

Em primeiro lugar, o retorno presencial indica um movimento de recentralização do controle. Durante o período remoto, empresas apostaram na autonomia dos colaboradores; agora, com a adoção massiva de IA e métricas de produtividade, cresce o desejo de “visibilidade direta”. Assim, a presença física torna-se um mecanismo de monitoramento e coesão cultural.

Em segundo lugar, essa mudança revela a tensão entre personalização e padronização. Da mesma forma que na educação digital, em que a promessa de personalização esconde, muitas vezes, padrões impostos por algoritmos, o trabalho remoto trouxe autonomia individual, mas também isolamento. O híbrido, portanto, busca um meio-termo — ainda que corra o risco de reproduzir desigualdades territoriais e hierárquicas.

Por fim, a decisão do Nubank simboliza a tentativa das empresas de reencantar o espaço físico, transformando o escritório em um ambiente de aprendizado contínuo, inovação e pertencimento. O local de trabalho volta a ser, ao mesmo tempo, escola e palco, onde a cultura corporativa se manifesta de forma tangível.


Impactos no mercado e na cultura corporativa

Com essa decisão, o Nubank inaugura uma nova tendência no setor financeiro e tecnológico da América Latina. É provável que outras empresas sigam o mesmo caminho, ajustando suas políticas híbridas de acordo com a resposta do mercado.

Para os profissionais, isso significa repensar a relação com o trabalho: a flexibilidade total pode se tornar exceção, não regra. A negociação sobre local, tempo e ritmo de trabalho voltará ao centro das relações laborais.

Já para as empresas, o desafio será combinar o melhor dos dois mundos: a agilidade do digital e a potência do presencial. Organizações que conseguirem equilibrar autonomia e conexão poderão criar ambientes mais criativos e sustentáveis.

Além disso, do ponto de vista social, a medida levanta debates importantes sobre mobilidade urbana, custo de vida e inclusão regional. Afinal, se os empregos mais valorizados voltarem a exigir presença nas capitais, o Brasil corre o risco de reforçar desigualdades históricas de acesso a oportunidades no setor tecnológico.


Conclusão

O retorno do Nubank ao modelo híbrido marca um divisor de águas na história recente do trabalho digital. Depois de anos de euforia com o remoto, as empresas parecem buscar uma nova síntese: nem 100% liberdade, nem 100% controle.

Para o Betaverso, essa transição oferece um campo fértil de reflexão sobre o papel da tecnologia na mediação das relações humanas. À medida que as empresas redefinem o “onde” e o “como” trabalhamos, surgem novas perguntas:
O que é colaboração autêntica? Até que ponto a cultura depende da presença física? E, sobretudo, quem ganha e quem perde com o retorno aos escritórios?

Mais do que respostas prontas, o caso do Nubank nos convida a olhar o trabalho digital com menos fetiche e mais complexidade. Afinal, entre a nuvem e o chão do escritório, talvez o futuro esteja mesmo no equilíbrio dinâmico entre ambos.

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