Introdução
O mercado de entregas na América Latina acaba de ganhar um reforço de peso. A Amazon, maior ecommerce do mundo, decidiu investir US$ 25 milhões na Rappi utilizando o modelo de convertible note. Em termos práticos, isso significa que o aporte entra como dívida, mas pode ser convertido em ações no futuro. De acordo com a Bloomberg, se certos marcos forem atingidos, a Amazon terá o direito de adquirir até 12% da empresa.
Esse movimento não surge por acaso. A Amazon vem consolidando sua presença logística na região e encontra na Rappi um aliado estratégico. Como lembra o portal bne IntelliNews, a empresa colombiana já é cliente da AWS e parceira do Prime, o que cria um terreno fértil para sinergias em tecnologia e fidelização.

Como funciona o acordo
O investimento foi estruturado em três etapas, que explicam o raciocínio por trás da aposta.
- Primeiro, a Amazon injeta os US$ 25 milhões na forma de dívida. Isso garante proteção inicial, já que, em caso de falência, a empresa americana se torna credora.
- Depois, se a Rappi levantar uma nova rodada de financiamento, fizer um IPO ou cumprir metas específicas, essa dívida pode ser convertida em ações com desconto.
- Por fim, a Amazon ainda terá a opção de ampliar sua participação, podendo comprar até 12% da companhia por meio de warrants. O MarketScreener destacou que essas condições estão ligadas a metas de crescimento, provavelmente relacionadas à logística e integração de serviços.
Esse tipo de investimento é comum no ecossistema de startups porque equilibra risco e oportunidade: protege o investidor, mas também abre espaço para ganhos significativos se a empresa crescer.
A estratégia da Amazon na região
A aposta na Rappi se soma a outras movimentações recentes da Amazon na América Latina. Em 2022, por exemplo, a gigante americana comprou aproximadamente 10% da transportadora Total Express e ampliou sua infraestrutura logística em capitais brasileiras. Segundo a AInvest, essa estratégia revela uma tentativa de reforçar todo o ecossistema de comércio eletrônico e entregas rápidas na região.
Além disso, a escolha da Rappi faz sentido no tabuleiro competitivo. O iFood domina o mercado brasileiro com mais de 80% de participação, mas a Rappi é a líder em outros países estratégicos, como Colômbia, México e Peru. O LatamList lembra que a empresa já opera em nove mercados, funcionando como um verdadeiro super-app, que vai muito além da entrega de comida.
Outro ponto relevante é a relação pré-existente entre as duas empresas. A Rappi oferece, na Colômbia, um ano de entregas gratuitas para assinantes do Amazon Prime, além de utilizar serviços da AWS. Ou seja, o aporte financeiro também fortalece uma parceria comercial que já vinha sendo construída.
O que está em jogo
Com esse movimento, a Amazon deixa claro que pretende disputar espaço diretamente com gigantes regionais. Entre eles, o Mercado Livre se destaca por investir pesado em logística e consolidar uma rede de entregas cada vez mais robusta. Nesse cenário, a agilidade da Rappi surge como um trunfo importante para a Amazon, como destacou a bne IntelliNews, ao oferecer velocidade e capilaridade que podem equilibrar o confronto com concorrentes já bem estabelecidos.
Para a Rappi, o aporte chega em um momento decisivo. A empresa levantou US$ 100 milhões em 2025 e agora se prepara para abrir capital. Contar com a Amazon como investidora não apenas aumenta sua credibilidade junto ao mercado, mas também abre acesso direto a décadas de conhecimento estratégico em escala global. A AInvest resumiu bem essa jogada: trata-se de um passo para fortalecer o ecossistema latino-americano de superapps com o respaldo de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.
Leia também: Air Fryers Ovens 2025: Por que Estão Bombando e 3 Modelos Imperdíveis
Conclusão
A entrada da Amazon na Rappi mostra que a corrida pela liderança em logística e delivery na América Latina está apenas começando. Com o aporte de US$ 25 milhões em um convertible note, a Amazon não apenas reduz os riscos de sua operação como também se posiciona para conquistar até 12% de participação caso a Rappi cumpra as metas estabelecidas.
Esse movimento pressiona diretamente os principais concorrentes da região. No Brasil, o iFood mantém domínio absoluto, com mais de 80% do mercado de delivery. Já em outros segmentos e países, o Mercado Livre avança com uma rede logística cada vez mais integrada e eficiente. Ao se aproximar da Rappi, a Amazon adiciona um novo componente a essa disputa: combina sua infraestrutura global com a agilidade local da startup colombiana.
As consequências podem ser significativas. A parceria tem potencial para acelerar entregas, ampliar o alcance de serviços e criar vantagens adicionais para usuários do Prime, alterando a experiência de consumo na região. O grande desafio agora não é saber se a entrada da Amazon vai impactar o mercado, mas até que ponto ela pode redesenhar o equilíbrio de forças em um setor que já vive uma competição intensa entre iFood e Mercado Livre.

André Sampaio é historiador, educador e especialista em tecnologias aplicadas à educação. Com mais de 15 anos de atuação no setor, uniu sua experiência em sala de aula à inovação pedagógica, atuando como professor, autor de materiais didáticos e especialista pedagógico em edtechs.
Formado em História pela UFF e mestre em Educação pela PUC-Rio, com foco em tecnologias educacionais, é também colaborador do Betaverso — espaço onde escreve sobre os impactos da tecnologia na educação, cultura e sociedade. Sua trajetória é movida pelo compromisso com uma educação crítica, acessível e conectada com os desafios do presente.

